quinta-feira, 7 de agosto de 2008

fluxo

Terça-feira, dia quente num inverno de céu sem cor. A única coisa sinestésica é o aroma de fumaça cobrindo o jardim. Nada de vaidade; pela pátria, pelo verbo, pela coragem, avante! Grita com o dedo em riste minha calma. Tudo mentira. O pensamento se adianta, e olhando de lado, mãos dadas com o vento, sussurra: pelo verbo! palavras são ruínas ou recompensas futuras; eternas... não escapamos delas... O que faço? Não conheço todas. Vou saboreando algumas de cada vez, e a minha calma é lenta demais, não consegue nunca passar por mim. Tenho minhas fomes, impulsos, e vivo sonhando. Penso adquirir poderes sobrenaturais: inventar moral, uma língua nova, justiça salomônica. Sonho sempre com um universo fantástico, atravesso paredes, influencio pensamentos, determino vontades (que as de todos sejam sempre boas), beijo o herói da minha história favorita, morro de amor, nenhum mendigo pela rua, saudações à sabedoria, fuga aos tiranos, o mundo é salvo. Quando mudo de conto de fadas, o herói embora outro é sempre o mesmo. A vida recomeça. Vai! E olho as aparências do mundo. Podre! Mas quê?... Continuo sonhando. Espero uma hora nova, menos severa. Que minha calma me alcance, que o aroma da liberdade seja nosso. Prossigamos.

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http://www.youtube.com/watch?v=c9j_RZDqYc4