domingo, 30 de dezembro de 2007

essas coisas

"... Dos antepassados, cada índio tem que saber pelo menos duas coisas - onde está enterrado o umbigo e onde está enterrado o crânio. Quer dizer, onde o bebezinho nasceu e onde depois a pessoa morreu. Mas isso é coisa de índio. Homem branco hoje em dia não liga mais para essas coisas. Prefere saber escalação do time de futebol, marcas de automóveis e outras sabedorias civilizadas."

(História meio ao contrário - Ana Maria Machado)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

moldura para um dia bom

nenhuma outra voz a teria cantado tão bem.
nenhum outro sorriso poderia atribuir-lhe tanta leveza.

http://www.youtube.com/watch?v=vnRqYMTpXHc&feature=related

Foi gravada pela primeira vez por Armstrong no outono de 1967.
Mais otimista, impossível.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

na deslealdade dos dias

O silêncio frontal impõe-me a tua presença. Ainda na memória busco o rastro aceso dos teus olhos (nunca sei o que realmente olham). À margem de ti, mantive-me navegando em múltiplas ausências.
Rabisco no inverso desse avesso arquipélago, minha história ao contrário. Não sei em que pé minha ilha se apóia. O incerto murmura na paisagem astrolábica dos meus olhos semi-cerrados. Invoco um enigma azul que rompe esse luto adverso.

(mas me quebraram os gestos e fio-me no surdo-mudo das palavras.)

e ecoa ainda na minha memória a pergunta do poeta palestino Mahmoud Darwish à reunião de nuvens:

"Para onde vão os pássaros depois do último céu?"



quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Glaubber - poesia em Cuiabá

Para uma edição de "A Tempestade" de Shakespeare de 1926.

"Amarelecidas
As páginas entregam
Juntamente com o tempo
O sabor dos anos...

A solidão desse silêncio pelo vento marulhado
O céu, que resplandece uma agonia alhures
Rumorejar das copas entediadas e solenes
Ritmo absoluto de como as cousas se movem
com a cor mediúnica da terra
em seu processo de labor e alegria...

e além desse silêncio
o pragmatismo obtuso de construções sem poesia
a caudal de violências em que buzinas e imprecações se agitam
vociferar do vozerio inescrupuloso em sua insolência..."



O Glaubber é poeta grande já, desses que fazem poesia até em papel higiênico.
Quer um papo com o poeta? Sabe a banca de livros do Sodré na rampa do IL, na UFMT? O poeta guarda as horas por lá. Está sempre disposto a conversar e te dar dica de bons livros.

Este e outro poema maravilhoso dele podem ser lidos na revista SINA do mês de novembro de 2007.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007



Satanique, o gato do Du.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

no cinturão de Orion

Orion é minha constelação favorita. Está no des/limite da minha geografia. É sempre a primeira coisa que olho quando estou sob céu aberto.
É minha diurna noite (me noturno com saudades da sua companhia).
Imaginoso.



"Na mitologia grega, Orion era um gigante caçador, por vezes chamado de Orião. De seu mito há várias versões . Segundo a mais comum delas, Orion era filho de Poseidon e de Gaia . Recebeu de seu pai o dom de andar sobre as águas, e de sua mãe o tamanho gigantesco. Dotado de beleza extraordinária ,era cobiçado pelas mulheres e pelas deusas.
Casou-se inicialmente com Side, que se dizia ser a mais bela de todas as jovens da Grécia antiga. Mas Side era orgulhosa e gabava-se de ser mais bela ainda do que as imortais, mais bela do que a própria Hera. Ciumenta, Hera vingou-se e precipitou a jovem do cimo das montanhas do Tártaro, matando-a. Tendo perdido a esposa, Orion perambulou perdido pela Terra.
Certo dia, foi chamado por Enopião, rei de Chios, para acabar com as feras que haviam invadido seu reino. Tendo terminado o serviço, conheceu a jovem Mérope, filha de Enopião. Mal se viram, os jovens apaixonaram-se. Porém o pai de Mérope era contra o casamento, e criou uma armadilha ao gigante. Enopião, que significa "o que bebe vinho", em grego, conseguiu embebedar o jovem. Quando este já estava dormindo, o rei cegou-o e expulsou-o do reino. Foi achado por um garoto, que se sentou em seus ombros e o guiou até o Sol Nascente. Quando Eos, a Aurora, o viu, apaixonou-se por ele e curou-o, dando-lhe novamente a visão. Os dois foram morar na ilha de Delos. Os dois viveram algum tempo juntos, porém o amor deles não durou muito, e Orion partiu para novas conquistas.
Em suas viagens conheceu Artemis, a deusa da caça, com quem criou forte amizade. Logo o caçador se apaixonou pela deusa, e, segundo dizem alguns autores, Artemis também se enamorou dele, apesar disso ser motivo de controvérsia. De qualquer forma a amizade dos dois gerou fortes ciúmes em Apolo , que um dia enviou um enorme Escorpião para matar o gigante. Apesar de o caçador estar habituado a esmagar estas criaturas , este era maior que Orion , além de possuir uma couraça que a espada do gigante não conseguia atravessar. Houve uma feroz batalha, que acabou com a morte de Orion.
Inconformada, Artemis pediu a seu pai, Zeus, que o revivesse. Zeus se recusou, mas acabou por transformar Orion em uma constelação, colocando-o nos céus. Transformou também o Escorpião, mas, temeroso de que os dois lutassem, Zeus colocou-o no canto oposto do céu, de forma que quando um ascendesse , à noite, o outro descendesse, e nunca estivessem juntos no céu.
Orion está no céu sempre a perseguir uma lebre, acompanhado por Sírius, que segundo alguns é seu cão, com uma pele de leão e com uma espada no cinto."





Uma curiosidade:

As estrelas que formam o Cinturão de Orion serviram de inspiração para a construção das pirâmides de Giseh no Egito, que encontram-se alinhadas na mesma disposição das estrelas do cinturão do gigante.

"Na Pirâmide de Quéops, em particular, sabe-se um detalhe no mínimo interessante…Os dutos de ventilação que desembocam na Câmara do Rei permitem que, a partir do sarcófago de granito vazio que existe no interior da Câmara, se visualize numa determinada época do ano o "Cinturão de Órion" por um duto, e a estrela Sírius (a (Alpha) Canis Majoris), pelo outro."


Só pra comparar:




não sei se é tristeza
ou se é dezembro



sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

por hoje

nO Passeio da Boa Vista
em companhia do Russo.


o Renato me consegue sempre

poesia sem palavras

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Sobre EU e VOCÊ

Estamos em constante processo de resignificação por uma questão natural. Somos colocados para refuncionar a partir das exigências da vida. Esse processo de resignificação de nós mesmos reflete uma realidade existencial. Nossos elementos singulares vão adaptando-se aos acontecimentos num movimento de (re)visitação de si mesmos e de conseqüente mutação sem prejuízo de nossa essência, mostrando-nos caminhos desprovidos de finitude e carregados de sentido que a identidade em processo de construção percorre, (re)construindo-se a cada passo num movimento ininterrupto de adaptação e significação valorativa dos símbolos que nos representam e nomeiam.
O movimento do nosso 'eu local' e do 'eu global' ou 'eu interior' e 'eu exterior' ou aquilo que 'realmente sou' e aquilo que 'aparento ser', vai constituindo-se em elemento de edificação identitária em todos os aspectos da nossa existência enquanto ser (lembrando que acredito na existência como infinita, a morte nos tira a vida mas não nos tira a existência).
Os nossos representantes simbólicos através do tempo são, sem dúvida, uma exigência histórica. A maneira como esses símbolos significam valorativamente processa-se nesse movimento de mutação ininterrupto e reticular por força temporal.
A idéia de identidade não está, certamente, cristalizada, não possui conceito definitivo, rígido, de uma realidade já definida. Somos, na verdade, um processo em andamento. Não estamos congelados no tempo, mas em processo contínuo de (re)visitação de nós mesmos e consequentemente em um processo contínuo de mutação, de transformação, que não significa o abandono de uma forma para a aquisição de outra, mas uma variação na forma sem prejuízo da essência, evolução de algo em si mesmo. Modificamo-nos em nós mesmos no movimento de nossos elementos originais e de elementos importados, de invenções próprias e de invenções tomadas de empréstimo, no movimento do 'de fora' e do 'de dentro'.
Somos algo inacabado, em eterna (re)construção. O singular e o plural vão se ajustando, alimentando-se um do outro. Todas as relações, sejam grupais ou interpessoais, estão entrelaçadas.
Parafraseando Thompson (teórico dos Estudos Culturais), a manutenção de nós mesmos no tempo exige uma contínua reconstituição de nossos conteúdos simbólicos no desenrolar da vida.
Eu e você somos uma construção narrativa autônoma. Defendemos nosso território individual e coletivo, estabelecemos nosso ritmo de vida, ordenamos nossos conflitos e nos determinamos legítimos a fim de nos diferenciarmos do Outro sem deixarmos de ser universais. Destacamo-nos não apenas pela diferença, mas pela hibridização. Pertencemos a um cenário multideterminado cujo destaque vai além do multiculturalismo étnico composto pelo nosso ser-índio, ser-africano, ser-europeu de nossa formação. Somos também e principalmente na maneira como (re)visitamos a nós mesmos e nos resignificamos. Reunimos o 'de dentro' e o 'de fora' sem deixarmos de ser singulares, sem deixar-nos perder do que nos significa diante do Outro. Não nos confundimos, nos transformamos sem prejuízo de essência. Reinventamo-nos em nosso cotidiano.
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Relembro Ortega y Gasset naquela frase clássica:
"Eu sou eu e minhas circunstâncias."
('n' leituras para ela)
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(pensamento desenvolvido a partir da realização de um trabalho científico sobre a resignificação da tradição na pós-modernidade. Os Estudos Culturais alargam nossa visão sobre conceitos que fazemos daquilo que observamos.)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

texto em fraturas

não darei teu nome ao que me resta
um fantasma me beija de morte cavada
fere-me de uma impossessão soturna, lenta, pesada.
seguro em concha minha alma alquebrada em dia branco
caminho no horror do vazio preciso
e vou nascer no próximo instante de exata insistência.

o que me devora ainda me faz forte.
memória debruçada sobre uma imagem lisa.
teus cabelos estendidos, longos, longe do meu alcance.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

un ratito que pasa

soy una boluda mismo!
boluda!
mismo!

y con el tiempo me voy perfeccionando.
me di cuenta.

sábado, 24 de novembro de 2007

"adivinha tarde demais que se mumificara"

Essa chuva que não me deixa pensar em nada...
Sem livros de teoria por hoje.
Tudo o que quero é ficar aqui parada.
Pego Os Subterrâneos do Jack e ...que inveja sinto dessa liberdade de poder falar, vomitar tudo numa prosa espontânea _ como ele mesmo chamava. Por hora me sinto exatamente assim, subterrânea. Ninguém pode me ver, nem me ouvir, nem me ler. Nada falo, nada escrevo, me escondo. Preciso tentar um mergulho mais raso, ainda estou em labirinto fundo e perdida. De tanto tentar brotar esquecimento, não sei por onde me deixei.
A merda dos dias é quando você pára pra pensar em nada e não consegue pensar o nada que queria, pensa um outro nada que é o nada de sempre, que incomoda. E mesmo quando você pensa não pensar, esse pensamento está lá, camuflado no que você pensa pensando não pensar.
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No que tô pensando? Em nada.
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Tá vendo aquelas letras ali? Nunca leia! São pássaros em vôo, dizem nada.
Estou encapsulada no meu vagomundo e por estes tempos tudo o que tenho é meu computadoramigo sobre a minha escrivaninhacasa. Meleio em algumas canções por aí e em dias dechuva que, não sei porque, insiste em só cair, tombo com ela.
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não consigo parar de ouvir a case of you.
a Joni é sempre boa companhia.

dia desses...

_ Apaixonei-me por Joni Mitchell, tô vendo se ela tem outras letras tão maravilhosas. Acabei de ler A case of you, e tem uma frase...

I remember that time you told me, you said,

\"Love is touching souls\"

Well surely you touched mine

Cause part of you pours out of me

In these lines from time to time.

(Eu lembro da época que você me dizia

'Amor é tocar almas'

Seguramente você tocou a minha

Pois parte de você flui de mim

De vez em quando, nestas linhas.)

Tocar almas...

_A Joni é poeta. Todas as letras que olhar serão assim, profundas. Estava desde ontem pensando em dedicar um post a ela. Engraçado te mandar essa música...

...alma, sempre ela.

Diálogo de andanças - sobre essa coisa que chamamos de alma. Papo com o cara mais beat que conheço.

http://www.youtube.com/watch?v=6voJjexENok

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

de 'O céu que nos protege'

_Are you lost?

_Yes.

_Because we don't know when we will die... we get to think of life as an inexhaustible well. Things happen only a certain numbers of times. And a small number, really.
How many times will you remember an afternoon of your childhood... an afternoon so deeply a part of you that you can't be without it? Perhaps four or five times more. Perhaps not even that. How many times will you watch the moon rise? Perhaps twenty. And yet it all seems limitless.

(The Shelterning Sky)

domingo, 18 de novembro de 2007

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não sei por onde anda minha vastidão...




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sexta-feira, 16 de novembro de 2007

EM TEMPO



Depois de quatro anos à míngua, ganhamos de presente _literalmente_ o In Rainbows.
No dia 10 de outubro o Radiohead tornou-se responsável por aquilo que no dia anterior o “Times” havia chamado de “The day the music industry died”. Publicaram o novo álbum na sua página na internet e o colocaram disponível para download pelo preço de... _ bem, essa é a revolução _ pelo preço que cada um quiser pagar. O CD torna-se material irrisório, o que contam a partir de agora são os “concertos”. Tem-se notícia de que até o segundo dia já haviam sido descarregados 1.2 milhões de cópias digitais numa média de 8 dólares. E para os que fazem questão do objeto físico, o CD sai a partir de 03 de dezembro.
Não é nenhuma banda anônima de garagem tentando chamar a atenção do mundo. São os autores de PABLO HONEY(1993), álbum referência ao rock alternativo norte-americano sendo 'Creep' a música de maior sucesso do álbum, tocada e tocada durante bom tempo nos programas da MTV ; THE BENDS(1995) foi o álbum que despertou a atenção do mundo para a banda definitivamente, levando 'Street Spirit' ao quinto lugar nas paradas do Reino Unido, e que trás a lindíssima ‘Fake Plastic Trees’ que é tudo o que eu queria ter cantado _ deles até hoje; OK COMPUTER(1997) álbum impactante; KID A(2000) experimentos com música eletrônica; AMNESIAC(2003) seguindo a mesma linha de Kid A; HAIL TO THE THIEF(2003) que é uma releitura da sonoridade dos trabalhos anteriores, e finalmente IN RAINBOWS(2007), um regresso às origens, instrumental perfeito.
Os arranjos bem elaborados, ousados, complexos e melodias tristes colocaram a banda ao lado do Pink Floyd e até, olha só, dos The Beatles.
São influências do Radiohead:
Talking Heads,
de influência marcante para a banda, dona de uma música chamada "Radio Head" onde os meninos se inspiraram para dar nome ao grupo.

Jeff Buckley,

compositor, cantor e guitarrista norte-americano, dono de uma voz singular e timbres insuperáveis;

Can,

banda de rock experimental alemã, de estilo musical baseado em bandas de rock de garagem como The Velvet Underground;

Joy Division,

pós-punk;

Aphex Twin,

DJ e produtor de música eletrônica, considerado figura influente da música eletrônica contemporâea;

Elvis Costello,

cantor compositor e músico britânico, parte do cenário pub rock britânico, mais tarde associado ao punk rock e new wave pra depois ser considerado voz única e original dos anos 80.

O delicioso estágio de sono REM.


E como não poderia deixar de ser... tan daaaannn... o rock progressivo do Pink Floyd.



O Radiohead tem a ver comigo. Adoro as músicas e o timbre vocal puro e anêmico do Thom Yorke.


...pra degustar, do novíssimo In Rainbows.

http://www.youtube.com/watch?v=-kCKob1YKOU&eurl=http://lishbuna.blogspot.com/2007_10_01_archive.html

site oficial da banda: http://www.radiohead.com/

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

um nome relâmpaga-me a memória
e tudo termina no meio de um gesto que não se completa.
tento fugir de dentro de mim mesma
sob um olhar de censura magoada

resta-me a gratuidade do em vão.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

apegar-se ao tolo é imperdoável tolice

Quando as pessoas encontram a hora de ir
e num gesto de carinho e respeito dizem adeus,
ficam para sempre guardadas na lembrança de dias bons.
São passado em ritual de revivescência.

Quando as pessoas encontram sua hora de ir
e num gesto imaturo que descoberta sua ausência de essência
partem num 'dar-de-ombros',
delas ficam pedras pontiagudas na memória,
um ar opaco,
uma sensação de tolice,
um verbo rasgado,
um substantivo imbecil.

Toda a minha mágoa é não ter motivo pra amar uma lembrança.
Esquecimento é desmemória e despalavra. É destoante, desistência, desazo, destroço, desusado, desbotado, desvalido, desvantajoso, desditoso, desenredado, destituído e destinatário.
Desvão.



por que não podia ficar o belo?
a tua alma é tão triste...
e me vejo em ti

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

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eu me demoro em Goya.

sábado, 10 de novembro de 2007

sobre o silêncio

Silêncio é o que me há de concreto
É nele que esquecimentos me pertencem,
Me encontro em tudo que me falta

Fantasma memória de plácidas janelas

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Relembranças vigiam em dia raso
enquanto teus olhos me incandescem de dentro


escrito originalmente para a 'Luneta Mágica'
lances de alma

do Rosa




"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

João Guimarães Rosa

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

PORCAS BORBOLETAS

"ao acaso, a gente se encontra pela rua.
você me oferece um dos biscoitos que comia.
aceito.
curiosidade em sentir o sabor de sua boca.

trazia também junto ao corpo
um presentinho de seus alunos,
uma rosa.
o dia, atrás de nós, muito branco.
penso então no argumento do poema japônes:

"para você
sem colhê-las
todas as flores do mundo"

insight tardio.
a tarde urgente já havia te levado.
(só sobrou o biscoitinho).

olho para trás, o dia muito branco.
para você, silenciosos, todos os poemas do mundo."

(Danislau Também)


circulação alternativa
coisas interessantíssimas rolando por aí
'léguas - superiores' às porcarias que nos querem obrigar a consumir.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

tudo é uma questão de perspectiva


“Enfie no teu-e-
* ria essa bosta
de teoria!
Na prática...
A merda é sempre outra.”

(Vitória Basaia - artista plástica)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Cada vez mais

GLOBALIZAÇÃO
As fronteiras diminuiram... ou aumentaram?
Vamos até o Japão sem sair do quarto e vivemos cada vez mais entre grades.


PÓS-MODERNIDADE
Somos sujeitos fragmentados, pós-modernos. A pós-modernidade é linda?
Somos cada vez mais especialistas e sabemos cada vez menos coisas. Nos aprofundamos numa particularidade e perdemos habilidade para as outras.
Quanto mais especialistas nos tornamos, mais recortamos a nossa vida e acabamos mais dependentes uns dos outros, e ainda assim o diálogo não é estabelecido.
Estamos aprendendo a ser cada dia mais individualistas. Estamos mais sós.

somos pajaros incansábles

Necesitamos encuentrar el camino del alma plena. Seguimos por aqui.
El alma está llena. Aquí están las palabras solas que a veces se quedan por el camino, pero 'todo' que hay en ella no puedo aún _ ni yo, ni usted _ sujetar. Entonces me quedo en la contemplación cuando em mi espacio, de sus palabras caen ratos de tu alma que despiertan ratos de la mía.
Comprendo la búsqueda. Comprendo como es morir y nadie mirar. Comprendo como es sentirse sola y procurar no sé que, sin encuentrar.



Nosotros por la calle, aunque por medio vaso de cerveza. Las palabras de la desesperación, el tiempo que urge en defensa propia, el deseo de agarrar el ratito que mira con exquisita precisión la profundidad del alma de nosotros sin determinar el destino de la noche. Y el coraje... mira! El coraje se queda en el fondo del vaso, y a la menuda observación es como un rayo que nos atraviesa lleno de memoria en el ineludible paso del tiempo. Además, somos pajaros incansables. Hay gestos para la emoción y la furia, para el cielo y el asombro.


escrito originalmente para a 'Luneta Mágica'
lances de alma

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Clarice Lispector






"E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão."
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"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."
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"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso."
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"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
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"Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo."
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"Eu sou uma pergunta."
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"Se eu fosse eu talvez eu não me conheceria."
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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Amanara

Fim das horas de sono estéril.
Quem vem até a janela pra me acordar numa manhã de indesejada segunda-feira? Amana.
O juízo, com as suas inconveniências me irritando: _Dia de sabatina no mestrado, precisa estudar!
Foi então que veio um “dane-se! mereço essa chuva”. Fiquei com ela. Temos uma história. Aproveitei pra pôr o pensamento em dia.
Basta! Chega de correria. O sangue pulsa, os dias não só passam pela vida.
O meu encontro comigo se dá em horinhas assim.
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Felicidade é/não é uma coisa estabelecida.

sábado, 3 de novembro de 2007

A NATUREZA JÁ ESTÁ MUITO CANSADA


Imagem divulgada pela Nasa mostra que o degelo do oceano Ártico quebrou todos os recordes e encolheu neste ano mais de 1 milhão de quilômetros quadrados (fonte: UOL - 22 de setembro de 2007).
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"A natureza já está muito cansada", escreveu o frade espanhol Luis Alfonso de Carvalho. Foi em 1695. Se nos visse agora... (E. Galeano)
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"Das matas mediterrâneas, permanece em pé uns quinze por cento. Há um século, o arvoredo cobria metade da Etiópia, que hoje é um vasto deserto. A Amazônia brasileira perdeu florestas do tamanho do mapa da França. Pelam-se as matas, desertifica-se a terra, envenenam-se os rios, derretem-se os gelos dos pólos e as neves dos altos cumes. Em muitos lugares a chuva deixou de chover e em muitos outros chove como se o céu se abrisse. O clima do mundo está mais para hospício. As inundações e as secas, os ciclones e os incêndios incontroláveis são cada vez menos 'naturais', embora os meios de comunicação, contra toda evidência, insistam em chamá-los assim. O poder encolhe os ombros: quando este planeta deixar de ser rentável, mudo-me para outro.
As palavras perdem sentido, enquanto perdem sua cor o mar verde e o céu azul, que tinham sido pintados por gentileza das algas que lançaram oxigênio durante três bilhões de anos.
Essas luzinhas da noite estão nos espiando? As estrelas tremem de esturpor e medo. Elas não conseguem entender como continua dando voltas, vivo ainda, este nosso mundo, tão fervorosamente dedicado à sua própria aniquilação. E estremecem de susto, porque já viram que este mundo começa a invadir outros astros do céu."
( EDUARDO GALEANO - 2002 )
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Essas questões me preocupam sinceramente, mais ainda num momento em que a voz dos céticos parece ganhar cada vez mais projeção. Tenho feito a minha parte, mas está longe de ser suficiente.
Que sensação de impotência e indignação! Mas não desisto.

...e meu corpo anda mesmo pedindo um pouco mais de alma. *

“Fala! Teu falar é grato
Como o vinho que embriaga,
Se n’alma tristeza apaga,
Traz sonhos que não tem fim!...”
(Fagundes Varela)



Agora olhando mais de longe, começo a perceber que mandei minha alma pra casa errada.
Compreendo que esquecimento é mesmo coisa de se esquecer.



*parafraseando Lenine - Paciência

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

(coisas velhas)

Meu fado anoitece em esquecimento
me silencio de estrelas quando horizonto os olhos
tudo cala no verde do momento.

Meus inteiros me decompõem para resto
árvores e libélulas me significam
hoje, estou coisa para vazios.

colhido por aí

Tristão e Isolda
Romeu e Julieta
O Amor nos Tempos do Colera
As Pontes de Madison
O Paciente Inglês
...
Não importa a história, cada um tem a sua.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ESTAdo

Não sei se a memória disso que vejo é passado ou futuro.
Preservo da minha inércia a ruína do não desejo.
Tudo leva o tempo.
O presente é a minha falta.
Mas se ouvem o grito de quem transita entre rostos conhecidos,
hei de sacudir e arrancar um gemido
da rua que me segue calada.

monólogo de janela

a imagem dela, único bem que me restou
IMPRESSÃO
Sempre senti nojo de barata e medo de lagartixa. De barata por andar em lugares sujos, cheirar mal e ter aspecto asqueroso, sem falar no insuportável plec! de quando morre e da gosma nojenta que fica no chão e no chinelo. Arrepio.
De lagartixa por ser tão pálida e andar de forma ameaçadora com aqueles olhos arregalados que parecem sempre estar olhando para mim, mesmo quando à espreita de um inseto. Mas descobri que eu e lagartixa somos muito parecidas. Lentas, observadoras, tranqüilas e calmas quando longe de uma ameaça, sem falar na palidez. Andamos em planos diferentes, mas às vezes penso se não seria verdadeiro o plano dela e não o meu.
Só me sinto meio barata quando estou com pressa. Não preciso dizer mais nada.
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EUlália
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(não pude trazer a janela.
fiquei sem horizonte.)


segunda-feira, 22 de outubro de 2007

SOBRE O REI

· Ah! o rei? De vez em quando me convida pra um chá, incensos e livros. É inteligente sem ser esnobe. Sedutor... medieval... Está sempre de barba mal feita e cabelos ao vento, gosta de poesia, toca bandolin, observa as estrelas e entende de constelações.

sábado, 20 de outubro de 2007

QUEM SOU EU?

Moro num quadro de naïf, sou uma cor em Frida kahlo, andei fumando charutos com o Jack*, leio poesias com o Pessoa(s), erro a língua com o Manoel e o Rosa, sonho sempre com um Quintana, durmo com o rei, vou às vezes para Passárgada, planejo Galápagos em algum novembro, levo comigo o Elefante do Drummond, namoro Órion e abraço árvores por aí.
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*Kerouac

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.”
John Donne