segunda-feira, 28 de julho de 2008

Reservo direitos autorais

O homem ainda vai inventar um objeto perfeito que, depois de inventado não precisará de auxílio de qualquer outro tipo de tecnologia para funcionar. É um objeto que faz a gente viajar, ver coisas de maneiras diferentes e conhecer lugares sempre novos mesmo que velhos.

E eu o manusearei da forma que eu quiser e precisar sem nenhum incômodo. Aí, não precisarei mais possuir um aparelho de dvd, ir até a locadora locar um filme, chegar em casa, conectar o aparelho na eletricidade (inventaram a eletricidade só pra isso) e colocar o disquinho dentro desse aparelho, pegar o controle remoto, descobrir que algo não quer funcionar, ficar nervosa em ter que deixar para o dia seguinte (afinal, foi um malabarismo com os compromissos do dia para conseguir um tempinho para ir à locadora, locar o filme, ir para casa e ainda ter no mínimo duas horas disponíveis para assistí-lo) , pois haverá a necessidade de contactar um técnico para ir até a minha casa e descobrir o problema do aparelho, ou do controle remoto, ou da TV, ou da eletricidade...
e precisarei arrumar outro tempo para ver o filme. Isso se o problema for simples e eu não tiver que levar algo para ser concertado fora de casa, atrasando por mais alguns dias a apresentação do filme escolhido.

Bem, nesse meio tempo eu já tive que devolver o filme para não pagar multa na locadora. E pagar outra locação do mesmo filme nem pensar!
Mas como eu ia dizendo, ainda vão inventar o objeto perfeito que poderá me acompanhar onde quer que eu vá, funcionando sempre que eu o abro, e eu nem vou precisar ligá-lo em nada, não precisarei pagar locação ou multa por atraso de entrega, não perderei tempo indo até a locadora para isso. Esse objeto funcionará sem controle remoto e nunca precisarei chamar o técnico. Esse objeto perfeito se chamará “livro”.
"É preciso ter humildade. É preciso saber que o melhor de mim não serve pra todo mundo."

(Bartolomeu Campos de Queiróz)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

"o seu nome tatuado no meu braço
tem a importância do meu braço."

quinta-feira, 24 de julho de 2008

"Fundação da poluição

Os pigmeus, que têm corpo pequeno e memória grande, recordam os tempos de antes do tempo, quando a terra estava acima do céu.
Da terra caía sobre o céu uma chuva incessante de pó e de lixo, que sujava a casa dos deuses e lhes envenenava a comida.
Os deuses estavam, havia uma eternidade, suportando essa descarga sebosa, quando sua paciência acabou.
Enviaram um raio, que partiu a terra em dois. E através da terra aberta lançaram para alto o sol, a lua e as estrelas, e por esse caminho subiram eles também. E lá em cima, distante de nós, a salvo de nós, os deuses fundaram seu novo reino.


Desde então, estamos embaixo."

(Espejos. Una historia casi universal - Eduardo Galeano)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Confluência dos sentidos



William Turner - Fishermen at Sea, 1796.




William Turner - Yacht Approaching the Coast, 1835




(permanentemente em uma paisagem de Turner)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Tosca sim, mas com estilo...

'Eudiota' e mais alguns bons adjetivos.
"E rasgam o silêncio do nosso acampamento à noite
E rasgam a noite
E rasgam o silêncio do nosso acampamento à noite
E rasgam o silêncio, tudo que é deixado é o que eu escondo."
(Elephant Gun - Beirut)

domingo, 20 de julho de 2008

Receita do Maurício

Como você costuma dizer, é... é... ...."asdjfklsahdfkljashdfkjsh"
Adorei!!

Beijo!


sábado, 19 de julho de 2008

tentando estabelecer contato por telepatia.
...
... ...
.
. ... ... ...
...
... ...
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tentativa fracassada.

sereias invisíveis

"As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias invisíveis, sensualidades incorporadas. Estremeço se dizem bem...
... Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar..."
(Bernardo Soares)
a lua escalou o céu e de lá me olha.
estou ficando meio encabulada.
já não sei o que faço com as mãos...
Vou sair por aí. Quero encontrar um espaço propício onde eu possa abrir a porta e deixar sair os meus fantasmas.
Preciso escrever.

É pela palavra que eu 'organizo' o meu caos, os meus fantasmas, isso que me persegue. É pela palavra que o meu maior fantasma ganha corpo e o olho de vidro de quem eu amarei.

O desequilíbrio é a meta. O equilíbrio não me diz nada.

Nada tem muita graça se os meus fantasmas não estiverem soltos.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Acho que vou tirar a roupa. Está muito frio aqui, mas tem alguma coisa me incomodando. Tem alguma coisa presa no meu corpo que acaba me dando essa sensação estranha de sufocamento. Quero abandonar, me despojar do que me aperta, do que me detém.
Não me importo de estar nua, prefiro estar nua. Se esse frio se intensifica, me cubro de palavras
e tudo fica bem.

(Minha pele é papel bom de escrever.)
Ainda bem que eu sou eu.
É bem verdade que às vezes me quero bem longe de mim.
Mas eu gosto de ser quem eu sou.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

eu e a TV

Péssima idéia! Alguns minutos na frente da TV e saio deprimidíssima.
Ouço o de sempre, que eu não sou lá grandes coisas e que minha vida é uma ... (me perdoem a intenção da palavra feia). A TV me diz que eu não tenho aquele carro, eu não serei como a mulher que estava dentro dele. Eu não tenho o cartão de crédito daquele banco, eu não sou especial. Eu não lavo os meus cabelos com aquele xampu, os meus cabelos não são sedosos e brilhantes como os da atriz da propaganda, eu não serei nenhuma atriz. Eu nunca serei BOA, não sirvo cerveja. Eu não fumo, minha vida não é e nem vai ser uma aventura. Eu não uso as roupas daquela marca, estou lamentavelmente fora de moda...



...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

dessa outra solidão de estar só

Talvez seja isso. Talvez seja essa, essa sozinhidão.
É como ser eremita de pedras secas que já moraram no mar.

terça-feira, 15 de julho de 2008

da solidão de estar só

"No deserto estão secas
as pedras que no mar se molhavam
a semelhança confunde o eremita que solitário demais
passou o tempo entregando-se à solitária memória
aqui a pedra seca
para o eremita não perdeu
a qualidade húmida de poder
ter estado ao pé do mar."

(Fiama Hasse Paes Brandão)

http://br.youtube.com/watch?v=-HTqBd4UAhw

(da poetisa portuguesa Fiama Hasse, musicado para violoncelo por Adriana Calcanhotto)

Quando eu estiver bem velha vou ter que dizer tudo o que penso e sinto, pois os lugares dentro de mim, tão usados e gastos, já não suportarão guardar mais nada, nem uma palavra sequer.
Direi ao vento.
"A dor do parto é também de quem nasce"
(colhido por aí.)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Livros para ler, um dia...

Durante palestra ministrada em um encontro de literatura na UFRJ, a escritora angolana Maria Celestina Cruz Fernandes contou, em breve relato, a história do seu lugar. Angola, um país da África Austral, maltratado primeiro pela colonização portuguesa de 1484 até o ano do meu nascimento, passando por uma guerra de libertação e auto-afirmação onde muitas atrocidades foram cometidas. Isso até bem poucos dias. Por muito tempo as pessoas conseguiam fazer apenas uma refeição por dia em virtude de uma crise econômica sem precedentes, além de um índice de analfabetismo alcançando a casa dos 85%. Dá pra imaginar isso?
E dentro da história de sofrimento e bravura de um povo castigado no tempo não dá pra parar de pensar numa frase dita por Maria Celestina: “Assim que a economia do país começou a reagir e as pessoas tinham dinheiro para comprar comida, elas começaram a comprar comida e livros desesperadamente. Tinham medo de que tudo aquilo pudesse acabar. Mesmo os que não sabiam ler adquiriam livros na esperança de um dia poder lê-los...”

Não há o que dizer depois disso.
Quem dera fosse essa a fome de todo mundo...



Rio de Janeiro, 08 de julho de 2008.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Canibalismo

Não dá pra sair por aí comendo qualquer um. A gente deve comer somente quem verdadeiramente nos interessa, pois o ato de devorar o outro nos torna repletos dele. Ele passa a morar em nós.


(Não é à toa que os canibais devoravam seus mais poderosos inimigos. Havia algo tão especial neles que os tornavam objeto de desejo do outro.)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

dias iguais.

sábado, 5 de julho de 2008

"Vi minha vida se desenrolar diante de mim como uma figueira de um conto que havia lido. Da ponta de cada ramo, um gordo figo roxo acenava e me seduzia com um futuro maravilhoso. Um figo significava um marido e um lar feliz com filhos, outro era uma poetiza famosa, outro uma professora, outro era Esther Greenwood, a surpreendente editora, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro Constantin e Sócrates e Átila, um bando de amantes com nomes esquisitos e profissões originais, outro ainda era uma campeã olímpica, e acima de todos esses figos havia muitos outros que eu não conseguia entender. Vi-me sentada sob essa figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia decidir qual figo escolheria. Queria-os todos, e escolher um siginificava perder o resto. Incapaz de me decidir, os figos começavam a murchar e apodrecer, e um a um caiam no chão a meus pés."


Trecho do livro A Redoma de Vidro de Sylvia Plath.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Cordel

O poeta me disse assim:

"Vou
Vou pregar na parede
Um pedaço de céu
...
Vou buscar outra constelação
Entre a noite que vai
E o dia que vem
..."

Fiquei pensando se conseguiria medir o peso de cada frase sobre mim. Fechei os olhos e me lembrei do pedaço de céu que sempre colo na parede e tentei imaginar uma maneira de tatuar no meu braço um risco de mar...
Olhei para o Lirinha em cima do palco sob luzes táteis. Um corpo magro de gestos grandes ocupando um lugar no espaço maior do que aquele que se supõe. Acho que é porque as idéias são fortes que ele gesticula tão aumentado.
Na falta de uma rolleyflex mirei com a minha Sony. Será que uma 'sonizinha' moderna diminui o peso que se quer dar ao ato? Bem, como estava dizendo, empunhei a minha Sony, mirei e comecei a disparar flashes numa tentativa de reter o acontecimento. Mas eu não queria só algumas imagens congeladas, eu queria aquela imagem. Aquela imagem que suga o momento de tal maneira que faz com ele fique para sempre no gerúndio.
... encurvado.
... retesado.
... de braços abertos.
... apontando para o alto.
... cantando, declamando, tocando.
... luzes.
... tambores.
... chocalhos.
... palavras - Era o que eu queria. Eu queria fotografar as palavras.

Uma bandeira erguida pela galera e baquetas partidas no peito de um tambor. Eu pulo bem alto, sou forte como um guerreiro das tribos do norte vestido com seu colar de sementes e só.

Meu desejo não tem nada com as grandes coisas, mas com aquelas que são insignificantes, que moram no chão. Um dia o Manoel me disse que as coisas que não valem nada tem muito valor.
Acreditei pra sempre.


"...
Vou
Vou riscar no meu braço
Um pedaço de mar...
...
Eu canto aqui
Eu olho daqui
Eu ando aqui
Eu vivo
Canto aqui
Eu grito aqui
Eu sonho aqui
Eu morro...
(morro)"