sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sobre vozes eleitas

outro dia falávamos em vozes: vozes que narram, vozes que consideram e vozes que, discretamente, fazem uso de nós.

há em mim uma voz que, quando falo sobre qualquer coisa, diz de mim algo que não estou dizendo no momento, mas quem me escuta, escuta essa voz e sabe de mim aquilo que eu não disse, mas ouviu da voz.
é extremamente inquietante pensar nessas vozes. são como assinaturas que não assinamos intencionalmente, mas que nos são próprias.

a Alessandra Abdala, na sua vivência de fono, disse-me hoje: "não é todo mundo que a gente escuta. nós elegemos as vozes que queremos ouvir."
essa frase ficou deitada no divã da minha memória. eu vou e volto e ela ainda está lá, toda esticada e preguiçosa, com ares de quem não vai se levantar. e antes de inquirir-lhe seja lá o que for, eu a observo e me pergunto de mim, dessas vozes que elegi, dessas que costumo dar atenção _ e consegui identificar exatamente quais são -, mas... o que me faz ouví-las, por que as escolhi?