sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

desterritorialização

Fim de ano. Família reunida (a galera do sul veio fazer uma visita). Observação.

Eu nasci lá no pé do mapa, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Sou filha de um indivíduo meio beat que nunca se deixou sossegar em lugar nenhum. Nem dá pra enumerar os cantos dessa América que lhe serviram de casa. Se a frase do Pumba tivesse sido dita pelo pai, eu não estranharia: "Lar é onde o bumbum descansa." Tinha alma de cigano, e o era, só não de nascença.
Bem, nessas andanças me largou no Mato Grosso, onde de vez enterrou o pé, literalmente. E nesta terra de Rondon me resta o fado de ser "pau-rodado". Todo mundo que nasceu em outras bandas e se aloja por aqui é digno desse título. E sempre que me perguntam de onde sou a resposta vem pronta: “De Porto Alegre!” Doce ilusão que se desfaz a cada contato com a minha terra ou gente de lá.
Se vou pra Poa, logo mandam: "Tu é de onde?" Se cá estou - e estou sempre - num determinado tempo de conversa vem a frase: "Você não é daqui, né?!"
Como assim? A que lugar pertenço, afinal?
Estou me conformando em não ser de lugar nenhum. Não pertenço mais a terra onde nasci nem ao lugar onde escolhi residir. Os de lá e os de cá me tiram isso.
Sou uma desterritorializada.
E essa é a situação de muitos por aí. Como no caso de uma amiga japa, brasileira de nascimento e filha de imigrantes japoneses. Aqui no Brasil ela não é brasileira, é japa, quando esteve no Japão não era japonesa, era brasileira. E ela fica “P” da vida com essa história. Fica toda grilada e me pergunta: “Eu sou de onde então?” Depois explico algumas coisas para a minha amiga japa.

E fica esse vazio de não pertencer a lugar nenhum.

Outro dia ouvi a Sirlei dizer que ela era internacional, ou seja, não defendia essa história de nação, de pátria, que isso tudo era uma grande bobagem, que isso só servia pra incluir o indivíduo em um determinado território e excluí-lo do resto do mundo.
E pensando bem... Olha que isso não é de todo ruim. Resolveria boa parte dos problemas desses povos que vivem em pé de guerra a eras. Ninguém estaria proibido de entrar em território alheio (território de quem?). Nenhum território seria de ninguém (território... o que é território?).
Já começo a compreender a Sirlei. Não pertencer a lugar nenhum é ser de todos os lugares ao mesmo tempo.
Ok! Nós, os desterritorializados, somos cidadãos do mundo.

Assim fica melhor.