sexta-feira, 18 de abril de 2008

O tempo debruça-se sobre o limiar da janela que não se abre para me receber

Uma fenda se cava. Côncava! E por ela o tempo se afasta todo cheio de demora, estrangeiro, borrando as canções em tinta azul que escrevi.
_ Subirás até a fonte?
_ Me faltam pés.
_ Sinalizarás para o vento?
_ Quando me regressarem as mãos.
_ Quem te colhe?
_ Toda a ausência que me sorri.

Um anjo negro de olhos cerrados aproxima-se me trazendo fogo.
_Eis que o mar já não mora mais aqui. Mudou-se para a curva do sonho. Não deixou a marca da estrela, sequer um beijo de despedida ou algo dito para gravá-lo em ti. Mandou-me, como mau consolo, entregar-te uma palma iluminada para que melhor aprecie quão grande é o plano da escuridão em que te desenhou no instante de partir.

Antes de fazer desaparecer o fogo, o anjo abriu os olhos, e neles eu vi...
Uma fenda que se cava. Côncava! E por ela o tempo se afasta todo cheio de demora, estrangeiro, borrando as canções em tinta azul que escrevi.