terça-feira, 1 de julho de 2008

Cordel

O poeta me disse assim:

"Vou
Vou pregar na parede
Um pedaço de céu
...
Vou buscar outra constelação
Entre a noite que vai
E o dia que vem
..."

Fiquei pensando se conseguiria medir o peso de cada frase sobre mim. Fechei os olhos e me lembrei do pedaço de céu que sempre colo na parede e tentei imaginar uma maneira de tatuar no meu braço um risco de mar...
Olhei para o Lirinha em cima do palco sob luzes táteis. Um corpo magro de gestos grandes ocupando um lugar no espaço maior do que aquele que se supõe. Acho que é porque as idéias são fortes que ele gesticula tão aumentado.
Na falta de uma rolleyflex mirei com a minha Sony. Será que uma 'sonizinha' moderna diminui o peso que se quer dar ao ato? Bem, como estava dizendo, empunhei a minha Sony, mirei e comecei a disparar flashes numa tentativa de reter o acontecimento. Mas eu não queria só algumas imagens congeladas, eu queria aquela imagem. Aquela imagem que suga o momento de tal maneira que faz com ele fique para sempre no gerúndio.
... encurvado.
... retesado.
... de braços abertos.
... apontando para o alto.
... cantando, declamando, tocando.
... luzes.
... tambores.
... chocalhos.
... palavras - Era o que eu queria. Eu queria fotografar as palavras.

Uma bandeira erguida pela galera e baquetas partidas no peito de um tambor. Eu pulo bem alto, sou forte como um guerreiro das tribos do norte vestido com seu colar de sementes e só.

Meu desejo não tem nada com as grandes coisas, mas com aquelas que são insignificantes, que moram no chão. Um dia o Manoel me disse que as coisas que não valem nada tem muito valor.
Acreditei pra sempre.


"...
Vou
Vou riscar no meu braço
Um pedaço de mar...
...
Eu canto aqui
Eu olho daqui
Eu ando aqui
Eu vivo
Canto aqui
Eu grito aqui
Eu sonho aqui
Eu morro...
(morro)"