quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Dialética

1- Os olhos andam sem música.
2- Erra na matemática de algumas histórias.
3- O pensamento decretou falência múltipla de mais de mil palavras.
4- Já não ouve o que dizem todas as cores.
5- Rasgou suas fábulas.
6- Guarda um coisário repleto de vazios.
7- Graças ao cultivo de esquecimento, nada sabe sobre uma velha mania de devaneios que repousa inconsciente num dentro que não tem fora.
8- Ordena-se na distância metafísica de um nada cheio de águas.

Ouvi dizer que absteve-se dos amigos mais antigos. Acompanha-o agora somente a querida vã Glória, que fez dele, com muito esforço, um fulano sem sujeito.

O meu pensar é como um vinil riscado.
Ando de um lado para o outro e caio sempre no mesmo lugar.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Quando eu estiver sonhando não se aproxime.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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A vida vai passando pela janela do carro. Tudo tão rápido que não há tempo para mergulhar na profundidade de cada coisa.
E que profundidade, se tudo é tão superficial?

Quero todas as estrelas e só uma constelação

A falta de você é como um Nilo azul, que batendo em rocha dura esmigalha-a de grão em grão até esculpir o seu grande Quenium.





(coisas velhas)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

No dia em que acordei vegetaL

Meu siso nasceu do riso de uma papoula, despida da sílaba que a vestiu. Insígnias e palavras tem lugar no alto ponto onde fábulas resistem com poder de encantamento.
Tudo era verde.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

kosmos X caos

Eu planto morangos e nascem morangos. Estamos tão acostumados com a ordem que não pensamos nela.


(plantar morangos e nascerem morangos não é nada óbvio, é mágico.)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Exemplos do insondável

Por vezes fecundo tristezas, me engravido de memórias, estouro, transbordo pelos lados, vazo, arrombo palavras, empurro e abandono desejos.
Evanesço.

Estanco debaixo de uma árvore, descanso entre folhas, cavo raízes, me alimento de um abraço.
Medro.

Identidade

Identidade é um processo de reconhecimento gerado na exposição diante do outro.

esforço mínimo



NÃO QUEIMAR
NÃO DESMATAR

domingo, 13 de janeiro de 2008

Da Alma

"A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe."

"Delícia de fechar o olhos, por um instante e assim ficar,
sozinho, fabricando escuro... sabendo que existe a luz!"

(Mário Quintana)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

o Leo tinha razão

"Uma vez que você tenha experimentado voar, você andará pela terra com seus olhos voltados para o céu, pois lá esteve e para lá desejará voltar. " (Leonardo da Vinci)

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

relato de vôo



Dez da manhã e estávamos no pé do morro.Queria um termômetro pra saber a temperatura, nunca senti o sol arder tanto. Uma camada generosa de filtro solar em todo pedaço do corpo exposto, boné na cabeça, camelback nas costas, muito ânimo e hora de encarar a subida.
De todas as vezes que subi o morro essa foi a mais penosa. Subir no fim da tarde pra ver o pôr-do-sol é mais fácil, agora, com sol a pino é mesmo de matar. As pedras parecem maiores e mais altas, cansa em dobro e a subida fica mais ‘ingridi’,como diria nosso amigo Aldemar. O morro tem só 210 metros de altura, debaixo desse sol e com essas pedras parecem 400.
Já estava quase perdendo as pernas quando fizemos nossa parada merecida. Sentamos numa sombra onde a vista já recompensa. Enquanto todas as minhas sensações - cansaço, sede, náusea e fome - me sacudiam de uma só vez, os guris se divertiam observando alguns voadores que dominam o céu por aquelas bandas:
_ Tá vendo aqueles caras ali?
_ Os da esquerda ou da direita?
_ Os que estão na base daquela nuvem ali. Olha só que enroscada!
_ É... tão subindo tudo que dá...


Fiquei procurando 'os caras' até cansar o pescoço, sentindo minha nuca esturricada (putz! esqueci desse pedaço). Bem, olhei, olhei e não achei nada, só uns passarinhos lá em cima.
Ok. Tomo água, fôlego, e o Arthur me puxa:
_ Bora amor, agora tem menos da metade.

Os passos estão lentos e fico pensando: que animação! Como a galera aqui gosta de diversificar, sempre buscando o melhor vento ou um vôo diferente não importando onde. Tudo pelo prazer e pela técnica. Nada de preguiça.
Topo do morro finalmente, tudo parado e - como diria nosso amigo Aldemar - ‘jarrada’ de vento que é bom, nada! Putz de novo! Escalar e morrer no morro?
NÃO! Não para o super-super Fernandes Falcon, o urubu mais cheio de ciência dessas paragens! Tan dannnnnnnn...
Aqui não, hein! Esse tira vento de pedra. E foi o que se deu. Asa aberta, equipamento em ordem, todo mundo conectado e...
_ Agora vai, agora vai... Ai meu Deus! Cadê esse vento? ... agora vai, agora vai... Pô!tá feio hein? ... É agora, é agora! Arthur, gruda aí. Vocês dois, dá pra fazer um varal?
_ Olha aqueles caras ali enroscando numa térmica. Acho que a bufa dela passa aqui.

De novo os tais 'caras'. Olho pra todo lado e nada. Dou três piscadas pra desembaçar e só mesmo passarinho lá em cima.

Tá chegando a hora.
_Seguinte Ângela: quando eu falar ‘vai’, começa a correr e não pára.
_Ok!


Eu estava tranqüila. Não sei por que, não sinto medo nenhum, confio no piloto e ao primeiro comando me atiro montanha abaixo. E foi assim mesmo.
_Corre, corre, corre, corre...
Pernas pra que te quero, saí correndo e fazendo força pra ajudar a arrastar a asa o que dava e inflar. Uhuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!!
Quando me dei conta já estávamos voando e eu ainda pedalando no ar. Ops!


Que sensação! Vento na cara, ar de sobra pros pulmões, paisagem até onde os olhos alcançam, o mundo lá embaixo. Já sei como os pássaros se sentem. O vôo livre é mágico. Ficava olhando tudo aquilo, o céu ‘quase’ ao alcance, a paisagem toda cabendo no angulo da minha mão e já pensando na próxima vez que poderia fazer isso de novo. Lugar perfeito pra uma poesia, nem precisa de palavras. Abro a boca o quanto dá e engulo uma porção de vento, quero digeri-lo pro resto da vida. Olhei o pessoal que tinha ficado no morro, vejo o Arthur decolando e... ih! Acho que vai pregar. Pregou! (hehe)
Conseguimos uma térmica. A ordem era jogar todo o peso do corpo pra direita e assim conseguir enroscar, girar e subir. Subimos 1.167 pra cima da rampa, se o vento colaborasse chegaríamos mais alto. Mas chegamos aqui por pura peripécia do piloto mesmo, porque o dia não estava fácil. Fizemos metade do caminho pra cidade de Santo Antonio de Leverger. Lá em baixo muitas chácaras e piscinas. Tchauzinho pra galera do solo. Começamos a perder altura, o Fernandes escolheu um bom lugar pro pouso e pronto. Pé no chão de novo e nem dava pra acreditar que o meu solo, a uns segundos atrás, era feito de brisa. Pousamos no pasto de uma fazenda e o nosso resgate chegou junto. Por último, uma chuva de recompensa. De co-piloto pra piloto: Valeu, hein! Parabéns!

Foram 44 minutos em outra dimensão. Impossível passar por uma experiência como essa e não olhar para a vida de outra maneira. Queria que todos os meus amigos pudessem ter pelo menos um dia de pássaro nessa existência.
Sentir-se livre no céu, de peito aberto pro espaço é uma sensação insubstituível.
Ah! Sobre os tais caras? É que urubu aqui é gente. E se chamar um piloto de ‘urubuzão’... Nossa! mó elogio.



sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

desterritorialização

Fim de ano. Família reunida (a galera do sul veio fazer uma visita). Observação.

Eu nasci lá no pé do mapa, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Sou filha de um indivíduo meio beat que nunca se deixou sossegar em lugar nenhum. Nem dá pra enumerar os cantos dessa América que lhe serviram de casa. Se a frase do Pumba tivesse sido dita pelo pai, eu não estranharia: "Lar é onde o bumbum descansa." Tinha alma de cigano, e o era, só não de nascença.
Bem, nessas andanças me largou no Mato Grosso, onde de vez enterrou o pé, literalmente. E nesta terra de Rondon me resta o fado de ser "pau-rodado". Todo mundo que nasceu em outras bandas e se aloja por aqui é digno desse título. E sempre que me perguntam de onde sou a resposta vem pronta: “De Porto Alegre!” Doce ilusão que se desfaz a cada contato com a minha terra ou gente de lá.
Se vou pra Poa, logo mandam: "Tu é de onde?" Se cá estou - e estou sempre - num determinado tempo de conversa vem a frase: "Você não é daqui, né?!"
Como assim? A que lugar pertenço, afinal?
Estou me conformando em não ser de lugar nenhum. Não pertenço mais a terra onde nasci nem ao lugar onde escolhi residir. Os de lá e os de cá me tiram isso.
Sou uma desterritorializada.
E essa é a situação de muitos por aí. Como no caso de uma amiga japa, brasileira de nascimento e filha de imigrantes japoneses. Aqui no Brasil ela não é brasileira, é japa, quando esteve no Japão não era japonesa, era brasileira. E ela fica “P” da vida com essa história. Fica toda grilada e me pergunta: “Eu sou de onde então?” Depois explico algumas coisas para a minha amiga japa.

E fica esse vazio de não pertencer a lugar nenhum.

Outro dia ouvi a Sirlei dizer que ela era internacional, ou seja, não defendia essa história de nação, de pátria, que isso tudo era uma grande bobagem, que isso só servia pra incluir o indivíduo em um determinado território e excluí-lo do resto do mundo.
E pensando bem... Olha que isso não é de todo ruim. Resolveria boa parte dos problemas desses povos que vivem em pé de guerra a eras. Ninguém estaria proibido de entrar em território alheio (território de quem?). Nenhum território seria de ninguém (território... o que é território?).
Já começo a compreender a Sirlei. Não pertencer a lugar nenhum é ser de todos os lugares ao mesmo tempo.
Ok! Nós, os desterritorializados, somos cidadãos do mundo.

Assim fica melhor.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

dedicatória

Não são dois caminhos
é uma só alma
que se parte em duas histórias.

(porque a gente viaja.)

Histórias da nossa américa
de invasores e invadidos
desse romance de sermos negros, brancos e
índios, sempre índios.
Te apresento Isabel
e essa Inés que somos dela.

da desmemória que me resta,
poucas palavras.


para a hermana
em Inés da minha alma de Isabel Allende.

crê/lê/vê/descrê/revê


sou meio Clarice
assim, sentidora...


"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica:
fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

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RE - COMEÇA-SE

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