domingo, 30 de dezembro de 2007

essas coisas

"... Dos antepassados, cada índio tem que saber pelo menos duas coisas - onde está enterrado o umbigo e onde está enterrado o crânio. Quer dizer, onde o bebezinho nasceu e onde depois a pessoa morreu. Mas isso é coisa de índio. Homem branco hoje em dia não liga mais para essas coisas. Prefere saber escalação do time de futebol, marcas de automóveis e outras sabedorias civilizadas."

(História meio ao contrário - Ana Maria Machado)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

moldura para um dia bom

nenhuma outra voz a teria cantado tão bem.
nenhum outro sorriso poderia atribuir-lhe tanta leveza.

http://www.youtube.com/watch?v=vnRqYMTpXHc&feature=related

Foi gravada pela primeira vez por Armstrong no outono de 1967.
Mais otimista, impossível.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

na deslealdade dos dias

O silêncio frontal impõe-me a tua presença. Ainda na memória busco o rastro aceso dos teus olhos (nunca sei o que realmente olham). À margem de ti, mantive-me navegando em múltiplas ausências.
Rabisco no inverso desse avesso arquipélago, minha história ao contrário. Não sei em que pé minha ilha se apóia. O incerto murmura na paisagem astrolábica dos meus olhos semi-cerrados. Invoco um enigma azul que rompe esse luto adverso.

(mas me quebraram os gestos e fio-me no surdo-mudo das palavras.)

e ecoa ainda na minha memória a pergunta do poeta palestino Mahmoud Darwish à reunião de nuvens:

"Para onde vão os pássaros depois do último céu?"



quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Glaubber - poesia em Cuiabá

Para uma edição de "A Tempestade" de Shakespeare de 1926.

"Amarelecidas
As páginas entregam
Juntamente com o tempo
O sabor dos anos...

A solidão desse silêncio pelo vento marulhado
O céu, que resplandece uma agonia alhures
Rumorejar das copas entediadas e solenes
Ritmo absoluto de como as cousas se movem
com a cor mediúnica da terra
em seu processo de labor e alegria...

e além desse silêncio
o pragmatismo obtuso de construções sem poesia
a caudal de violências em que buzinas e imprecações se agitam
vociferar do vozerio inescrupuloso em sua insolência..."



O Glaubber é poeta grande já, desses que fazem poesia até em papel higiênico.
Quer um papo com o poeta? Sabe a banca de livros do Sodré na rampa do IL, na UFMT? O poeta guarda as horas por lá. Está sempre disposto a conversar e te dar dica de bons livros.

Este e outro poema maravilhoso dele podem ser lidos na revista SINA do mês de novembro de 2007.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007



Satanique, o gato do Du.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

no cinturão de Orion

Orion é minha constelação favorita. Está no des/limite da minha geografia. É sempre a primeira coisa que olho quando estou sob céu aberto.
É minha diurna noite (me noturno com saudades da sua companhia).
Imaginoso.



"Na mitologia grega, Orion era um gigante caçador, por vezes chamado de Orião. De seu mito há várias versões . Segundo a mais comum delas, Orion era filho de Poseidon e de Gaia . Recebeu de seu pai o dom de andar sobre as águas, e de sua mãe o tamanho gigantesco. Dotado de beleza extraordinária ,era cobiçado pelas mulheres e pelas deusas.
Casou-se inicialmente com Side, que se dizia ser a mais bela de todas as jovens da Grécia antiga. Mas Side era orgulhosa e gabava-se de ser mais bela ainda do que as imortais, mais bela do que a própria Hera. Ciumenta, Hera vingou-se e precipitou a jovem do cimo das montanhas do Tártaro, matando-a. Tendo perdido a esposa, Orion perambulou perdido pela Terra.
Certo dia, foi chamado por Enopião, rei de Chios, para acabar com as feras que haviam invadido seu reino. Tendo terminado o serviço, conheceu a jovem Mérope, filha de Enopião. Mal se viram, os jovens apaixonaram-se. Porém o pai de Mérope era contra o casamento, e criou uma armadilha ao gigante. Enopião, que significa "o que bebe vinho", em grego, conseguiu embebedar o jovem. Quando este já estava dormindo, o rei cegou-o e expulsou-o do reino. Foi achado por um garoto, que se sentou em seus ombros e o guiou até o Sol Nascente. Quando Eos, a Aurora, o viu, apaixonou-se por ele e curou-o, dando-lhe novamente a visão. Os dois foram morar na ilha de Delos. Os dois viveram algum tempo juntos, porém o amor deles não durou muito, e Orion partiu para novas conquistas.
Em suas viagens conheceu Artemis, a deusa da caça, com quem criou forte amizade. Logo o caçador se apaixonou pela deusa, e, segundo dizem alguns autores, Artemis também se enamorou dele, apesar disso ser motivo de controvérsia. De qualquer forma a amizade dos dois gerou fortes ciúmes em Apolo , que um dia enviou um enorme Escorpião para matar o gigante. Apesar de o caçador estar habituado a esmagar estas criaturas , este era maior que Orion , além de possuir uma couraça que a espada do gigante não conseguia atravessar. Houve uma feroz batalha, que acabou com a morte de Orion.
Inconformada, Artemis pediu a seu pai, Zeus, que o revivesse. Zeus se recusou, mas acabou por transformar Orion em uma constelação, colocando-o nos céus. Transformou também o Escorpião, mas, temeroso de que os dois lutassem, Zeus colocou-o no canto oposto do céu, de forma que quando um ascendesse , à noite, o outro descendesse, e nunca estivessem juntos no céu.
Orion está no céu sempre a perseguir uma lebre, acompanhado por Sírius, que segundo alguns é seu cão, com uma pele de leão e com uma espada no cinto."





Uma curiosidade:

As estrelas que formam o Cinturão de Orion serviram de inspiração para a construção das pirâmides de Giseh no Egito, que encontram-se alinhadas na mesma disposição das estrelas do cinturão do gigante.

"Na Pirâmide de Quéops, em particular, sabe-se um detalhe no mínimo interessante…Os dutos de ventilação que desembocam na Câmara do Rei permitem que, a partir do sarcófago de granito vazio que existe no interior da Câmara, se visualize numa determinada época do ano o "Cinturão de Órion" por um duto, e a estrela Sírius (a (Alpha) Canis Majoris), pelo outro."


Só pra comparar:




não sei se é tristeza
ou se é dezembro



sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

por hoje

nO Passeio da Boa Vista
em companhia do Russo.


o Renato me consegue sempre

poesia sem palavras

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Sobre EU e VOCÊ

Estamos em constante processo de resignificação por uma questão natural. Somos colocados para refuncionar a partir das exigências da vida. Esse processo de resignificação de nós mesmos reflete uma realidade existencial. Nossos elementos singulares vão adaptando-se aos acontecimentos num movimento de (re)visitação de si mesmos e de conseqüente mutação sem prejuízo de nossa essência, mostrando-nos caminhos desprovidos de finitude e carregados de sentido que a identidade em processo de construção percorre, (re)construindo-se a cada passo num movimento ininterrupto de adaptação e significação valorativa dos símbolos que nos representam e nomeiam.
O movimento do nosso 'eu local' e do 'eu global' ou 'eu interior' e 'eu exterior' ou aquilo que 'realmente sou' e aquilo que 'aparento ser', vai constituindo-se em elemento de edificação identitária em todos os aspectos da nossa existência enquanto ser (lembrando que acredito na existência como infinita, a morte nos tira a vida mas não nos tira a existência).
Os nossos representantes simbólicos através do tempo são, sem dúvida, uma exigência histórica. A maneira como esses símbolos significam valorativamente processa-se nesse movimento de mutação ininterrupto e reticular por força temporal.
A idéia de identidade não está, certamente, cristalizada, não possui conceito definitivo, rígido, de uma realidade já definida. Somos, na verdade, um processo em andamento. Não estamos congelados no tempo, mas em processo contínuo de (re)visitação de nós mesmos e consequentemente em um processo contínuo de mutação, de transformação, que não significa o abandono de uma forma para a aquisição de outra, mas uma variação na forma sem prejuízo da essência, evolução de algo em si mesmo. Modificamo-nos em nós mesmos no movimento de nossos elementos originais e de elementos importados, de invenções próprias e de invenções tomadas de empréstimo, no movimento do 'de fora' e do 'de dentro'.
Somos algo inacabado, em eterna (re)construção. O singular e o plural vão se ajustando, alimentando-se um do outro. Todas as relações, sejam grupais ou interpessoais, estão entrelaçadas.
Parafraseando Thompson (teórico dos Estudos Culturais), a manutenção de nós mesmos no tempo exige uma contínua reconstituição de nossos conteúdos simbólicos no desenrolar da vida.
Eu e você somos uma construção narrativa autônoma. Defendemos nosso território individual e coletivo, estabelecemos nosso ritmo de vida, ordenamos nossos conflitos e nos determinamos legítimos a fim de nos diferenciarmos do Outro sem deixarmos de ser universais. Destacamo-nos não apenas pela diferença, mas pela hibridização. Pertencemos a um cenário multideterminado cujo destaque vai além do multiculturalismo étnico composto pelo nosso ser-índio, ser-africano, ser-europeu de nossa formação. Somos também e principalmente na maneira como (re)visitamos a nós mesmos e nos resignificamos. Reunimos o 'de dentro' e o 'de fora' sem deixarmos de ser singulares, sem deixar-nos perder do que nos significa diante do Outro. Não nos confundimos, nos transformamos sem prejuízo de essência. Reinventamo-nos em nosso cotidiano.
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Relembro Ortega y Gasset naquela frase clássica:
"Eu sou eu e minhas circunstâncias."
('n' leituras para ela)
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(pensamento desenvolvido a partir da realização de um trabalho científico sobre a resignificação da tradição na pós-modernidade. Os Estudos Culturais alargam nossa visão sobre conceitos que fazemos daquilo que observamos.)