certa vez, em uma das correspondências com o poeta Aclyse, ele me perguntou dos meus medos, em que personagens eles se transformariam.
tenho pensado nisso.
naquele primeiro momento eu reconheci a Desespero e o Monstro-de-Lá.
sobre esse último eu o descrevi mais ou menos como um tipo que nunca consegue expressar-se por inteiro. suas palavras não alcançam tudo o que gostaria, não sei se por não conhecê-las completamente ou se por preferir o silêncio da intenção. ele está sempre preso do outro lado, na outra margem de algum lugar. sente-se sufocado por não conseguir ser presença. é inteiro ausência de todo lugar e de si mesmo. vive num contínuo ressoar de idéias, tentando dizer o mesmo de modo diferente ou o diverso sempre da mesma maneira. o seu desejo profundo é chegar mais perto, mas não consegue sair do lado em que está.
ele, assim como eu, é um desterritorializado.